Fábio Roberto Notícias // Ilhéus . Bahia

Emenson Silva: “A Prefeitura de Ilhéus será mais uma franquia do carlismo de Salvador ou honrará as raízes da terra de Jorge Amado?”

“Quando eu vim pra esse mundo, eu não atinava em nada. Hoje eu sou Gabriela, Gabriela he! Meus camaradas.” Os versos de Modinha para Gabriela, de Dorival Caymmi e eternizados pela obra de Jorge Amado, traduzem a essência de Ilhéus: uma cidade profundamente enraizada em sua história e tradições, resistente às mudanças bruscas e sempre atenta às suas próprias características. É nesse cenário que, em janeiro de 2025, uma nova gestão assumirá o comando do município, cercada de dúvidas e expectativas sobre sua capacidade de entender e lidar com a complexa realidade local que é extensa e exigirão muitos esforços para alguns dos vários problemas existentes sejam minimamente solucionados, afinal , não vivemos no mundo fantástico, muito menos em uma cidade fantástica, ela trás problemas crônicos e de décadas.

Rumores indicam que o futuro governo será formado por “especialistas” vindos de fora, muitos deles diretamente participantes da campanha eleitoral e os outros que compõem quadro de consultoria e assessoria com agentes políticos da capital. Essa configuração já levanta questionamentos. Ilhéus tem um histórico de exclusão de modelos de gestão que não dialogam com sua cultura e tradições. A memória da única administração que não concluiu o mandato, composta por muitos vindos de Minas Gerais, ainda serve como exemplo dos riscos de importância de um estilo de governança que não se conecta à realidade da cidade.

O desafio vai além da técnica de administração. A gestão precisará de interesses articulados em um ambiente político marcado pelo “toma lá, dá cá” e pelas alianças enraizadas na cidade que teve como base na sua formação o coronelismo. A pergunta que ecoa é: especialistas externos, com pouca ou nenhuma experiência local, têm habilidade para navegar neste terreno? A pressão pela renovação encontra resistência nas práticas consolidadas e a busca pelo equilíbrio entre tradição e inovação será essencial para evitar conflitos entre o Executivo e o Legislativo. Se o futuro prefeito falhar em mediar essa relação, corre o risco de reviver os erros de dentro de casa.Tomara a Deus, que não ocorra isso. Nesse jogo não se avalia bem querer se executam os interesses e as disputas.

Ilhéus é a terra de Gabriela, que “nasceu assim e cresceu assim”. Sua identidade não se molda facilmente a ideias revolucionárias ou gestos que ignoram suas particularidades. Como escreveu Jorge Amado, “viver já é difícil; conviver, então, é um desafio permanente”. Para o próximo governo, essa convivência será o maior teste e apenas quem entender as raízes profundas da cidade poderá aspirar a conduzi-la sem perder o rumo. Afinal, Ilhéus sempre cobra caro daqueles que ousam desrespeitar seu jeito de ser.

Artigo assinado e de responsabilidade de Emenson Silva.


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