No dia 2 de abril, o mundo se veste de azul para lembrar a importância da conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A data, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, pretende ampliar a compreensão sobre o autismo, combater preconceitos e incentivar a inclusão. No entanto, essa reflexão não pode ser restrita a um único mês. O compromisso com a inclusão e com a saúde mental deve ser permanente.
As iniciativas promovidas neste período, como eventos educativos, rodas de conversa e parcerias institucionais, são fundamentais para sensibilizar a sociedade. Mas é preciso ir além do discurso e transformar essa conscientização em ações concretas. Ainda há um longo caminho a percorrer na garantia de direitos, no diagnóstico precoce e na efetiva participação das pessoas autistas em todos os espaços sociais.
O maior desafio continua sendo a hipocrisia social. Muitas instituições que pregam a inclusão neste dia são as mesmas que negam matrículas a crianças autistas ou não promovem adaptações para acolhê-las adequadamente. Empresas que fazem publicações sobre a conscientização são, muitas vezes, as mesmas que fecham portas para candidatos autistas no mercado de trabalho. Esse é o verdadeiro problema: a transformação de uma causa em simples estratégia de marketing.
A negligência em relação ao autismo não é um caso isolado. Ela reflete um problema mais amplo e global: a dificuldade da sociedade em lidar com a saúde mental como um todo. Em diferentes países, ainda há barreiras significativas para o acesso ao diagnóstico, tratamentos adequados e políticas públicas eficazes. Não são apenas as pessoas com TEA que sofrem com a demora nos diagnósticos e com a falta de suporte adequado. Transtornos como depressão, ansiedade e outros quadros neurológicos e psiquiátricos ainda enfrentam estigmas que dificultam o acesso a tratamentos eficazes.
Precisamos falar sobre saúde mental sem tabus. Cuidar da mente deve ser tão natural quanto cuidar do corpo. Buscar um diagnóstico, procurar um psicólogo ou psiquiatra e fazer uso de medicação quando necessário não podem ser vistos como fraqueza. Pelo contrário, são atitudes de coragem e autocuidado. Entretanto, é fundamental ressaltar o perigo da automedicação. O uso de medicamentos sem a devida orientação médica pode agravar quadros clínicos, causar dependência ou gerar efeitos adversos graves. A saúde mental requer acompanhamento profissional qualificado, com um tratamento individualizado e seguro.
A inclusão real não acontece apenas no discurso. Ela está na prática cotidiana, na acessibilidade, na formação de professores, no acolhimento no ambiente de trabalho e na promoção de políticas públicas eficazes. Que o Dia Mundial da Conscientização do Autismo sirva como um trampolim para mudanças reais e não apenas como uma data para discursos “bonitos”. A luta por um mundo mais inclusivo e atento à saúde mental é diária, global e precisa do compromisso de todos.