Fábio Roberto Notícias // Ilhéus . Bahia

100 dias de governo Valderico: isolamento político e os limites da autonomia municipal

O governo Valderico Júnior chegou aos 100 dias na Prefeitura de Ilhéus tentando consolidar uma nova fase administrativa. Nesse curto período, o que se viu foi uma gestão buscando afirmar sua marca em meio a grandes desafios estruturais, financeiros e, sobretudo, políticos. A cidade parece viver, hoje, uma espécie de redemoinho institucional, onde o esforço local tenta se sobrepor à ausência de apoio das esferas estadual e federal — um cenário bastante complexo administrativamente e politicamente falando, que já dá sinais da necessidade de grandes esforços por parte do gestor e sua equipe, caso contrário poderá comprometer a capacidade de entrega a médio e longo prazo.

A oposição do atual governo municipal aos grupos que comandam o Estado e o país tem gerado uma espécie de isolamento político com impactos concretos. Enquanto outras cidades baianas conseguem avançar com projetos estruturantes por meio de convênios e repasses, Ilhéus assiste à estagnação de obras estaduais e à dificuldade de conseguir programas federais importantes. É uma desconexão que transcende o debate partidário e se não solucionado afetará diretamente o cotidiano da população.

A falta de interlocução com Salvador e Brasília não é apenas um problema apenas diplomático — é um entrave prático, que limita a ação do poder público local em áreas essenciais. Em tempos de orçamento apertado, a autonomia municipal tem limites claros. Os recursos próprios não são suficientes para enfrentar os gargalos históricos de Ilhéus, muito menos para garantir investimentos robustos em saúde, infraestrutura ou mobilidade. A cidade precisa estar no radar dos grandes centros de decisão e isso exige articulação, presença e habilidade política e não poderia deixar de lembrar os esforços realizados pela prefeito atual na busca incansável dessa solução.

Além disso, parte dos recursos disponíveis ainda enfrentou obstáculos judiciais: bloqueios determinados por decisões anteriores travaram milhões de reais, comprometendo o planejamento inicial da gestão, não podemos ser levianos até porque entendemos muito bem como funciona o jogo político. “Para meus amigos TUDO, para meus inimigos NADA”. Assim, ocorre em todas as esferas de governos.

O tom adotado pela atual gestão tem sido o da reconstrução, com a narrativa de que Ilhéus está sendo retirada do abandono. A mensagem tem força simbólica, principalmente junto a parte da população que se sentia desassistida. No entanto, essa leitura precisa ser equilibrada com a realidade: Ilhéus vive um momento delicado, que exige mais do que discursos de resgate. A gestão atual tem que executar o tripé ação -reflexal-acao. O que está em jogo agora é a capacidade da cidade de se reintegrar ao mapa político da Bahia e do Brasil.

O caminho, daqui em diante, não será simples. O governo local terá que se desdobrar para construir pontes com aqueles que hoje representam os centros de poder, mesmo que isso signifique dialogar com campos políticos distintos. Ilhéus precisa de recursos, de projetos estratégicos, de integração com programas estaduais e federais — e isso não virá apenas com esforço interno. A governabilidade real, nos tempos atuais, depende da capacidade de articular, ouvir e negociar.

Cem dias são apenas o começo. Mas já deixam clara uma lição: a reconstrução de Ilhéus não será feita apenas com trabalho interno. A cidade precisa romper o isolamento, reencontrar seu lugar no debate estadual e nacional e, acima de tudo, buscar o que é de direito — sem ruídos, sem barreiras partidárias, com maturidade institucional.

Artigo do professor e presidente do Curso Gabaritando, Emenson Silva. 


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