A Prefeitura de Ilhéus anunciou recentemente a realização de um concurso de quadrilhas juninas com premiação de até R$ 10 mil, como parte dos festejos do São João. A iniciativa, à primeira vista, parece um incentivo à cultura popular, mas causou revolta entre os grupos da própria cidade.
O motivo? Nenhuma ajuda foi oferecida às quadrilhas locais para custeio de figurinos, cenários ou transporte — itens fundamentais para a realização de apresentações de qualidade. Enquanto isso, quadrilhas de fora, muitas delas já financiadas por suas prefeituras de origem, se preparam para competir em Ilhéus com grandes produções, colocando os grupos ilheenses em clara desvantagem.
“Estamos lutando com as próprias mãos para manter viva a tradição junina em nossa cidade. Todo ano é uma batalha para conseguir tecido, costureiras e alimentação para os ensaios. Agora, a Prefeitura quer premiar quem já vem pronto, enquanto os nossos ficam esquecidos”, desabafa uma das coordenadoras de uma tradicional quadrilha de Ilhéus.
Para muitos brincantes, a atitude da Prefeitura é um desrespeito com quem mantém a cultura popular viva durante o ano inteiro, com ensaios, ações sociais e oficinas culturais nos bairros. “É uma vergonha. A gente carrega essa tradição com amor, mesmo sem apoio, e ainda temos que ver o dinheiro público servir como atrativo para grupos de fora, enquanto os da cidade são ignorados”, diz uma dançarina veterana.
Com a proximidade dos festejos juninos, muitos grupos avaliam a possibilidade de não participar do concurso, como forma de protesto.
A Prefeitura ainda não se pronunciou sobre a falta de incentivo direto aos grupos locais. Enquanto isso, os artistas populares de Ilhéus continuam a ensaiar com paixão, mesmo diante do descaso e da falta de reconhecimento.
Afinal, de que vale premiar a festa se a alma da cultura local é deixada de lado?