Termina neste sábado (16), a seleção e o treinamento do grupo de estudantes de Ilhéus selecionados pelo Coletivo Delibera Brasil, que vai trabalhar entrevistando moradores da cidade sobre a orla da praia da Avenida Soares Lopes. Já na próxima segunda-feira (18) começará o trabalho de campo com duração de 10 dias. Essa atividade é desenvolvida por meio de uma parceria, sem custos para o Poder Legislativo, da Câmara de Vereadores de Ilhéus, a Comissão Especial da Avenida e o coletivo Delibera Brasil, um movimento democrático e sem fins lucrativos que trabalha com uma forma inédita e democrática de atuação da sociedade em decisões de pautas políticas de comunidades, cidades ou até mesmo bairros.
A metodologia do Delibera Brasil nas discussões sobre a Soares Lopes será no formato de minipúblico e acontecerá em etapas: acolhimento, criação do vínculo com a população; imersão no problema onde os participantes terão acesso aos dados gerados durante as audiências; diálogo, momento de discussão sobre as informações colhidas a fim de criar uma ideia de construção coletiva e, por fim, a criação da Carta-Recomendação, documento que contém a solução e encaminhamentos. Essa parceria, de acordo com Vinícius Alcântara, permitirá uma avaliação sobre o tema respeitando a pluralidade de público de diferentes classes sociais, faixa etária, gênero, sexo e bairros de Ilhéus.
Segundo a fundadora do Delibera Brasil, Fernanda Império, esta é “uma experiência inédita no país de deliberação cidadã provocada pela Câmara Municipal de Ilhéus, pois é a primeira vez que acontece oficialmente”. Ela lembra ainda que esta metodologia se difere das Audiências Públicas, onde os convidados normalmente são militantes na área e, com o minipúblico, os idealizadores vão procurar aproximar o cidadão comum dos gestores da cidade.
Oitava audiência
Esta tarde, a oitava Audiência Pública temática foi realizada na Câmara. Para debater sobre “Mobilidade e Segurança”, o evento contou com a participação de especialistas e dos vereadores Vinícius Alcântara (PV), Enilda Mendonça (PT), Ivo Evangelista (Republicanos) e Aldemir Almeida (PP). Para o Major PM Wesley, comandante da 68ª Cia., não existe cidade inteligente sem o devido respeito ao cidadão e a ocupação pacífica de suas áreas, sejam de lazer, moradia ou comercial. “Existe hoje uma certa periculosidade na área em determinados horários”, reconhece a autoridade de segurança, ressaltando que existem, também, para combater esse perigo, rondas diuturnamente. E a presença da PM, diante de um novo contexto da artéria, será determinante, com a criação de uma base e novos equipamentos de apoio ao sistema público de segurança.
Na ótica da mobilidade, o comunicólogo Jonathan Souza, membro do Conselho Municipal das Cidades e coordenador do Projeto MobCidades, de mobilidades, segurança e direitos, destacou que os debates sempre amadurecem as discussões. “Temos esperança no surgimento de um projeto arquitetônico adequado”, afirmou, acrescentando que o que está sendo discutido é o modelo de cidade que a população quer para o futuro. “O centro tem que funcionar como espaço de integração. A cidade carece de espaços de lazer e não pode ser um espaço de concreto e estacionamento, mas de respeito e convivência”, disse.
Planejamento, cadê?
“Falta planejamento”, lamenta o agente de trânsito e presidente do sindicato da categoria na Bahia, Valério Bonfim. “O crescimento desordenado é histórico, até cultural para nós”, completou. “O poder público atua como mero arrecadador de impostos”, reforça o vereador Aldemir Almeida. Ele defende a criação de Parcerias Público Privadas (PPPs) para viabilizar a avenida em espaços que todos tenham acesso, “mas não de maneira desordenada, beneficiada por padrinhos, como ocorre hoje”, completou.
Para o professor Élvis Barbosa, do Coletivo Ciclomobilidade, a sociedade precisa cobrar mais. “Quando o poder público começa a dar atenção e valorizar um espaço público, começa a atrair investidores, a participação privada”, ressalta. O professor Élvis gostaria de ter o exemplo da orla de Aracaju na avenida Soares Lopes. “A partir das atividades de lazer, a orla tornou-se referência com diversos espaços“, exemplifica.
Cleide Avelino da Silva, cadeirante e liderança da Associação Beneficente dos Deficientes Físicos de Ilhéus, lembra que é muito triste ver a avenida nas condições de hoje. “Se é algo inacessível a quem não vive a deficiência física, imagina pra nós? É necessário que haja uma corrente por todos os âmbitos e áreas, por que um precisa do outro. Não é uma questão da praia. Mas da cidade toda”, na opinião dela.
Para a vereadora Enilda Mendonça, a cada audiência realizada, a cada reunião concluída, ela afirma sentir a responsabilidade da comissão da avenida na elaboração do estudo, do projeto conceitual da Soares Lopes, colocando no relatório todas as vozes que opinam sobre o tema. “Se depender do povo de Ilhéus, este será um lugar de convergência social, que caiba todo mundo e que pertença a toda a cidade”.